O Oscar e o feminismo
Em 90 anos de história o Oscar premiou milhares de diretores, produtores e atores, dentre outros, de Hollywood. A maior indústria cinematográfica do mundo produz diversos clássicos e, consequentemente, muitas estrelas. Algumas com anos de carreira, outras mais novas, mas que se destacam por seu talento.
Tendo se tornado uma indústria tão grande, reconhecida mundialmente, Hollywood nos trouxe como consequência uma premiação à altura. O Oscar, a princípio uma premiação norte-americana, tomou um viés mundial, e hoje em dia latinos reivindicam, por exemplo, uma maior representatividade na cerimônia. Durante todos esses anos o prêmio da academia foi responsável por alavancar a carreira de diversos atores, e atrizes, mas uma questão que vem sendo muito levantada recentemente: a representatividade no Oscar.
Em pleno 2018, três categorias estão completamente dominadas por indicações apenas masculinas: trilha sonora, edição de som e efeitos visuais. Nesses 90 anos de história somente quatro mulheres foram indicadas na categoria de melhor diretor. Quatro mulheres. A quinta, Gerwig (Lady Bird), está sendo indicada nessa edição.
Por que isso acontece?
O machismo é um velho conhecido de todas as mulheres, todas, elas se intitulem feministas ou não. Desde pequenas nós somos criadas em uma sociedade patriarcal, que prega alguns valores às mulheres e outros bem diferentes aos homens. Não preciso ir muito longe para exemplificar essa questão, no dia a dia somos bombardeados por dizeres, propagandas e atos machistas, vindos de todas as esferas e meios da sociedade. É claro que tudo isso reflete no cinema e, mais ainda, no maior prêmio da sétima arte.
Em Hollywood há centenas, ou milhares, de mulheres envolvidas na produção de um filme, mas o espaço que é dado aos homens é muito maior. Um exemplo que retrata bem isso é o das diretoras mulheres. Ao fazer um filme que vai mal de bilheteria ou de crítica, uma diretora mulher dificilmente será chamada para fazer outros longas, ainda mais por grandes estúdios. Ao mesmo tempo, os diretores homens, alguns muito conhecidos, colecionam filmes mal dirigidos ou que são um fracasso de bilheteria, mas continuam sendo chamados para fazerem novos blockbusters. Ou seja, suas carreiras continuam intactas. A exploração sexual a que as atrizes são submetidas é algo antigo, do início do cinema, mas só agora está sendo discutida, décadas depois. É algo tão comum e aceito entre os que fazem parte da indústria que se você, mulher, quer construir uma carreira de sucesso tem que estar preparada para esse tipo de coisa. Recentemente dezenas de escândalos têm tomado os jornais, produtores e atores estão sendo acusados de assédio, mas isso é só a ponta de algo muito maior. Há centenas de casos que talvez nunca venham a público.
O assédio na indústria cinematográfica é tão naturalizado que em Último Tango em Paris a atriz Maria Schneider foi violentada por Marlon Brando e Bernardo Bertolucci, em uma cena real do filme. A desculpa foi de que era para dar um toque dramático e real à cena. Isso aconteceu em 1972, e o caso só veio a público em 2016. A atriz morreu, alcoolizada e perturbada, repetindo a vida inteira que foi abusada, mas ninguém lhe dava ouvidos. Todo mundo só acreditou quando o próprio Bertolucci admitiu em 2013 que queria filmar a reação verdadeira de uma mulher humilhada e não as expressões de uma atriz.
A representatividade é importante sim. Ao longo de nossas vidas nos inspiramos em exemplos e tomamos situações encenadas, ou retratadas, em filmes como lições de vida. Muitas vezes, tirando um verdadeiro aprendizado disso. Toda uma geração de meninas precisa crescer com a imagem de que a mulher é forte e que ela por si só se basta. Não somos só carne a ser explorada, e não temos que obedecer aos prazeres de ninguém. Em sua 90ª edição já está mais que na hora do Oscar mostrar as centenas de mulheres que merecem destaque em suas carreiras, e ajudar a florescer novas aspirantes da arte cinematográfica. A representatividade importa.