Demolidor 3ª Temporada – Crítica
Enfim chegou ao catálogo da Netflix a tão esperada terceira temporada de Demolidor. Para muitos, considerado a melhor produção da parceria entre o serviço de streaming e a Marvel Studios. Em seu terceiro ano o Homem sem Medo, não perde a mão e vai fundo, destrinchando toda a psiquê do protagonista e explorando sem qualquer temor toda a dicotomia entre bem e mau, analisando a fina linha que separa o vigilante do assassino.
A história segue diretamente de onde parou a minissérie dos Defensores, com Matt Murdock (Charlie Cox) sendo resgatado quase sem vida e se abrigando em seu antigo orfanato. Enquanto o Demolidor abraça seus demônios e procura se distanciar de sua vida civil, Wilson Fisk (Vicent D’Ofrino), ainda preso, coloca em prática um audacioso plano para acabar com a vida de todos aqueles que se opuseram contra ele, tornando-o assim, de uma vez por todas, o verdadeiro Rei do Crime. Para os nerds mais atenciosos, nesta pequena sinopse já se pode notar que trata-se de uma adaptação do icônico arco A Queda de Murdock, escrita por Frank Miller com artes de David Mazzucchelli. Na HQ, assim como na série, Fisk descobre a identidade secreta do Diabo de Hell’s Kitchen, e destrói completamente a vida de seu rival. Nem tudo acontece exatamente como na HQ, muitos arcos menores são adaptados para “linkar” com os acontecimentos deste universo. Tudo para deixar a trama mais fluida e consistente.
Talvez o maior acerto das alterações sobre o material original seja a adição do agente o FBI Ray Nadeem (Jay Ali). Aqui entra mais uma das muitas “dissecações” da psiquê humana, presentes na série, colocando um agente do FBI necessitado por uma promoção na agência, para propor um acordo com Wilson Fisk, então, cai nas mãos dele uma delação que pode mudar o rumo de tudo. É justamente do ponto de vista de Nadeem que somos apresentados a métrica dicotômica das definições de bem e mau, impostas pelo Rei do Crime ao Demolidor. Hora o herói é motivado a pensar apenas em vingança, abandonando suas convicções e embarcando em uma jornada de agressividade. Tudo isso para perceber que Wilson Fisk só vence, se Matt Murdock transgredir seus dogmas católicos e matar pela primeira vez. Tudo isso, é claro, distribuído magistralmente em 13 episódios muito bem escritos e dirigidos. Falando em direção, para os fãs das, já icônicas, lutas de corredor, tradicionais desde o primeiro ano da série, um plano sequência com cerca de 11 minutos, mostra uma detalhada e bem coreografada luta. Vale muito a pena conferir.
Aliás, não é de hoje que sabemos que Demolidor não está na mesma prateleira das outras produções que dividem este universo. Por mais fãs que tenham Punho de Ferro, Luke Cage ou Jessica Jones, é inegável a qualidade superior da série do Homem sem Medo. Isso fico nítido ainda mais neste terceiro ano. Com um ritmo muito mais acelerado e assertivo, a série consegue deixar o espectador na pontinha da cadeira durante todos os capítulos da temporada. É aqui onde fica claro que a série chegou ao seu ápice como produção. Em tempos de cancelamentos enigmáticos, Demolidor exala sucesso em todos os patamares da produção, elevando o nível e mostrando o por que sempre teve um lugar especial no coração de todos os fãs.
Se é que podemos apontar um ponto negativo em todo esse verdadeiro evento que foi a terceira temporada de Demolidor, ficaria por conta do excesso de apego presente no roteiro por alguns personagens. Para quem leu o material original, sabe que algumas perdas são necessárias para fazer da história algo realmente épico e aumentar o senso de perigo. Mas apesar de a série não trilhar este caminho, isso fica longe de estragar a experiência.
Se por um lado enaltecemos tanto a atuação, quanto o roteiro no que dizia respeito a Ray Nadeem, temos que notar também o brilhante trabalho desenvolvido por Wilson Bethel, que ventilou uma nova roupagem ao Mercenário, outro clássico vilão do Homem sem Medo nas HQs. Mais uma vez caindo forte na exploração do psicológico de seus personagens, vemos um vilão com um passado borderline psicopático, onde, apesar de sermos apresentados até mesmo a infância do antagonista, o roteiro é competente o suficiente para não nos deixar cair em armadilhas e nos apegarmos, mantendo sempre um viés verdadeiramente mau, para aquele que pode vir a ter um espaço muito maior como um oponente definitivo em um futuro próximo.
De maneira geral, Demolidor agrada sem restrições. Brincando com tramas bem elaboradas e fazendo uso de discursos bem atuais, a série parece não se degastar com os anos mostrando que o personagem ainda tem folego para mais alguns anos de uso nas mãos da Netflix.