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Crítica – Tipos de Gentileza

Exagerado, absurdo e estranhamente cômico, Tipos de Gentileza, traz Yorgos Lanthimos de volta a suas origens em uma produção absolutamente desconfortável e repleta de doses cavalares de muita peculiaridade.

Muito menos palatável do que Pobres Criaturas, seu último trabalho que brilhou no Oscar, aqui, apesar do diretor retomar várias parcerias, também se reencontra com um estilo de subversão cinematográfica. Tornando sua produção em uma peça de arte complexa e repleta de excessos absurdos, que convidam o espectador a experimentar diferentes sensações em uma obra muito mais singular.

Na história, acompanhamos três contos ligados por uma narrativa que experimenta um olhar que brinca com a morte enquanto inevitavelmente coloca seus protagonistas escolhendo conscientemente se desconectar da vida em diferentes aspectos. Na primeira história somos apresentados a um funcionário que coloca todas as decisões de sua vida nas mãos de seu patrão. Na segunda, temos um policial que após ter sua esposa dada como desaparecida, ao tê-la de volta em casa, passa a desconfiar se aquela realmente é sua mulher. E na terceira, acompanhamos uma dupla pertencente a um perturbador culto, que percorre o país em busca de uma profética figura feminina capaz de ressuscitar mortos.

Se em Pobres Criaturas, toda a peculiaridade do diretor servia como motor em uma história que colocava uma inocente e pura protagonista enfrentando e desvendando um monstruoso e deturpado mundo, desta vez Lanthimos subverte o texto e coloca personagens desviados e delirantes, como agentes do exagero e do caos em um mundo ordinário.

Ainda que as três diferentes histórias ocupem a mesma linha narrativa, são protagonizadas pelo mesmo grupo de atores, que dão vida a personagens diferentes. Um fato que à primeira vista causa certa estranheza, mas que ao longo da produção se desdobra em um brilhante exercício criativo, que traz destaque para as atuações inspiradas de Jesse Plemons, Emma Stone e Willem Defoe.

Entretando, ainda que o longa cative por uma perturbadora ousadia excêntrica, que volta e meia quebra a expectativa da audiência com cenas extremamente expositivas, entrepostas a belas mudanças de fotografia e closes exagerados que entregam até uma certa poesia ao texto e ao momento, é bem possível que Tipos de Gentileza não alcance o mesmo sucesso de seu antecessor. Para uma audiência mais abrangente, toda a subjetividade e estilo desconstrutivo do diretor, pode ser encarado apenas como uma falta de proposito que se preocupa apenas e tão somente em chocar.

Ainda assim, muito mais do que chocar, Tipos de Gentileza usa do exagero para empurrar seus protagonistas ao extremo de situações cotidianas. Quase como um convite à uma perspectiva brutal sobre um ensaio de até onde o ser humano pode ir em uma crise moral, até onde podemos chegar se pressionados ao extremo e até onde a gentileza se transforma em dependência.

Por fim, quando despido de todos os maneirismos excêntricos e absurdos de Yorgos Lanthimos, Tipos de Gentileza desafia sua audiência a analisar a natureza humana por um prisma cru e pessimista. Afinal, era muito mais fácil ficar ao lado de uma jovem inocente, em Pobres Criaturas, do que encarar uma caricatura cética, vulgar e grotesca de nós mesmos.

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