Crítica – Planeta dos Macacos: O Reinado
Mais de três séculos após a partida de César, o primeiro primata a evoluir e libertar sua espécie, enfim somos apresentados a novos personagens, uma nova história e mais uma promessa de guerra em Planeta dos Macacos: O Reinado.
Agora, a franquia que reimagina a origem de um planeta tomado por símios, tal qual o clássico longa de 68, traz à cadeira de diretor o competente Wes Ball. Diretor de bom currículo, mas que tem a difícil tarefa de superar ninguém menos que Matt Reeves.
A história acompanha o próximo passo da evolução dos primatas, agora trezentos anos após a morte de César, que tem sua imagem quase esquecida e seus ensinamentos completamente deturpados. Neste cenário, somos apresentados ao Noa, um macaco da tribo da águia, que após um brutal ataque, precisa resgatar sua família das garras de Proximus César, um primata cruel, que rapta e escraviza outros de sua espécie. Na jornada, Noa encontra Raka, um orangotango que se esforça para manter os ensinamentos de César ainda vivos e também Mae, uma humana diferente de qualquer outra e que guarda um grande segredo.
Não existe uma alma sequer, que negue a qualidade da trilogia encabeçada por Rupert Wyatt e encerrada majestosamente por Reeves. Os filmes trazem uma história coesa, uma jornada emocional e ainda preenchem lacunas e referenciam com maestria a obra original. Elaborar um quarto capitulo para essa saga, não é tarefa simples. E precisa mais do que tudo de um bom argumento.
Mas, primeiramente, vale destacar o que deu certo na produção. E aqui, o visual é uma das marcas mais reconhecidas da franquia. Existe não apenas uma evolução natural nas expressões dos símios, mas também em todo o ecossistema que os cercam. Trezentos anos se passaram, sem o toque do homem, e agora, as grandes metrópoles são cobertas pelo verde da floresta, onde é possível encontrar não mais do que vestígios da época em que a raça humana dominava tudo. Essa é uma visão de impacto para o expectador, sem dúvidas.
Além da parte técnica, vale ressaltar a atuação de Freya Allan, que dá vida a única humana relevante na história, a Mae. Principalmente para aqueles que conhecem a atriz apenas da série The Witcher, da Netflix, podem se surpreender com a presença de Allan em tela. Seu papel, que não é nada simples, contrapõe uma visão de humanos regredidos a condições animalescas, enquanto ainda personifica o contraste de pensamentos antagônicos sobre humanos e símios poderem coexistir. É neste movimento complexo de sua personagem, que a atriz deixa seu talento transparecer.
Entretanto, assim como dito anteriormente, um quarto capitulo para uma franquia como esta, precisa de muito mais do que ótimos efeitos e boas atuações para existir. É preciso proposito, e infelizmente Planeta dos Macacos: O Reinado não tem. O roteiro perde tempo remontando velhos arquétipos já explorados, como o confronto e a deturpação entre os próprios símios, enquanto promete mais uma vindoura guerra final contra os poucos humanos remanescentes, que agora se organizam em viveiros subterrâneos. Mas para a história, trezentos anos já se passaram e todos sabemos onde esta jornada precisa chegar. Ainda assim a produção parece querer afastar este final já escrito e definido. Tudo por mais um capítulo e mais alguns minutos de tela. Nesta tentativa de esticar a franquia para além do necessário, perdem-se ótimas chances de criar uma ligação final, aparar algumas últimas arestas e enfim dizer adeus.