Crítica – Os Fantasmas Ainda se Divertem
O estranho, mórbido e encantador mundo de Tim Burton ganha vida mais uma vez em Os Fantasmas Ainda se Divertem. E mesmo que o longa fique aquém de seu antecessor, é sempre surpreendente como a mente do cineasta arquiteta uma viagem extravagante e muito divertida em absolutamente todas suas obras.
Sem se amarrar muito aos detalhes do filme anterior, aqui temos uma jornada muito mais intima para as três gerações de mulheres da família Deetz, com Delia (Catherine O’Hara), Lydia (Winona Rider) e Astrid (Jenna Ortega), precisando retornar à casa em Winter River para superar uma tragédia familiar.
Com a exceção de Batman: O Retorno, Burton assumidamente não costuma revisitar suas obras com qualquer tipo de sequência. Logo, é lógico assumir que aqui a produção vai se esforçar para soar um tanto mais profundo do que seu antecessor. Se no longa original a ideia era mostrar um pós-vida caricato, porém encantador, sem tristeza ou dor. Desta vez a produção mergulha de vez na repartição pública do pós-vida para oferecer uma reflexão sobre tempo e como aproveitamos ele.
Dentro do tema, o roteiro orbita por três histórias diferentes, sempre colocando as mulheres Deetz no centro da trama e todas elas culminando em um endemoniado BeetleJuice (Michael Keaton), agora a frente de seu próprio departamento no além.
Mas no fim, tudo acaba sendo sobre tempo, seja em uma Lydia presa em um relacionamento sem amor, que não consegue ter tempo de qualidade com sua filha Astrid, seja em Delia que vive o luto de não ter mais tempo com seu amado, ou mesmo com um BeetleJuice que ainda sonha em se casar com uma mortal para poder deixar uma eternidade tediosa para trás e conseguir mais tempo no mundo dos vivos.
Muito além das notórias atuações excelentes que o filme traz, o destaque maior fica por conta visual impecável da produção. Uma evolução nítida de tudo que deu certo no longa original, encontrando um equilíbrio perfeito entre o novo e o clássico.
Por outro lado, alguns pequenos deslizes não passam despercebidos. O ritmo do longa acaba truncado pelo excesso de narrativas. Todas despertam o interesse do público, mas culminam em uma conclusão muito mais rápida do que se esperava. Os novos personagens de Willem Defoe e Monica Bellucci acabam reduzidos a acessórios de luxo e uma trama inchada.
A ausência dos fantasmas originais, de Alec Baldwin e Geena Davis, é totalmente compreensível, mas ainda sentida pelos fãs, que certamente esperavam uma menção maior do que uma desculpa que propositadamente ignora algumas regras.
Ainda assim, Os Fantasmas Ainda se Divertem é com toda certeza uma das produções mais divertidas e empolgantes de Tim Burton nos últimos anos. Quase nunca revisitar um clássico nostálgico gera um resultado tão bom e interessante como esse.