Crítica – O Telefone Preto
Nem toda produção precisa ser necessariamente inovadora. Um clichê, quando bem utilizado, pode entregar um filme excelente e um ótimo divertimento. Esse é o caso de O Telefone Preto, novo suspense sobrenatural, dirigido por Scott Derrickson e estrelado por Ethan Hawke.
Derrickson, retornar às produções de terror, após uma breve passagem pelo Universo Cinematográfico da Marvel. O diretor que já era destaque no gênero desde seu trabalho em O Exorcismo de Emily Rose (2005), mostra que nem de longe perdeu a mão e traz, para esta produção, um terror intimista e denso que definitivamente deixará o espectador no mínimo desconfortável na cadeira, do inicio ao fim.
Na história, acompanhamos o protagonista Finney Shaw, um garoto de 13 anos que acaba sendo sequestrado por um sádico serial killer. Trancado em um porão e sem saída, o garoto encontra um Telefone Preto. Ainda que o objeto não pareça estar ligado a nenhum cabo, ele toca. Do outro lado, as vitimas anteriores do assassino tentam ajudar o garoto a escapar daquela situação. Enquanto isso, a irmã mais nova de Finney, tenta compreender seus sonhos proféticos a tempo de ajudar o irmão desaparecido.
A trama é baseada no livro de Joe Hill, filho de Stephen King. Mas ainda que a história se utilize de vários clichês e reserve poucas surpresas para os fãs mais sagazes do gênero, a obra conta com um certo tom de familiaridade, o que ajuda o espectador a se conectar com a história. A direção de Derrickson contribui, e muito, para essa imersão, que faz do roteiro uma verdadeira montanha russa de emoções despertando um bem-estar no espectador antes de preparar o terreno para um contundente jumpscare.
Muito do acerto do longa está na escalação de elenco. Manson Thames, que da vida ao Finney, entrega uma atuação realmente angustiante. Ver o garoto preso naquela situação em uma atuação repleta de angustia e expressões bastante emotivas desperta um envolvimento natural entre espectador e personagem. Hawke, por sua vez, que interpreta o serial killer, mostra uma atuação verdadeiramente aterrorizante, mexendo com o psicológico da audiência mesmo usando uma sinistra máscara boa parte do filme.
Ainda falando sobre as atuações, talvez o maior destaque vá para Madeleine McGraw, que da vida a irmã de Finney, Gwen. A atriz mirim tem um papel complicado, além de lidar com seu pai, abusivo e alcoólatra, a garota ainda precisa compreender a extensão de seus dons sensitivos, um dos pilares do roteiro. Mesmo que boa parte do filme dedique mais tempo ao antagonismo entre Thames e Hawke, talvez o personagem mais interessante da produção esteja com McGraw.
No fim de tudo, O Telefone Preto pode sim ganhar uma atenção maior do público, diferente do que se possa imaginar, longa trabalha sim com o óbvio, mas faz questão de entregar uma ótima história. Talvez não como um terror brutalmente assustador, mas sim como um suspense imensamente instigante.