Crítica – O Legado de Júpiter
O Legado de Júpiter chegou como uma belíssima promessa pelas mãos da Netflix, mas termina dividindo bastante a opinião dos fãs que esperavam uma história mais acelerada e impactante.
Quando a Netflix divulgou a compra dos direitos de adaptação dos quadrinhos de Mark Millar, o mesmo de Kick Ass, todos imaginavam que o serviço de streaming mirava na concorrência, principalmente no incontestável sucesso de The Boys na Amazon. O movimento, de fato, foi mirando no sucesso das grandes adaptações, mas nitidamente houve um ruído entre a expectativa dos fãs e a execução do projeto.
A história, acompanha um grupo de heróis veteranos, prestes a passar o “bastão” para uma nova geração de superseres, muitos deles descendentes diretos. O problema surge, quando um grande vilão, Estrela Negra, escapa da prisão e começa a causar problemas para os heróis. Em uma difícil batalha, Brandon Sampson (Andrew Horton), o Paradigma, acaba ferindo mortalmente o vilão. Tudo para salvar seu pai, Sheldon Sampsom (Josh Duhmel), o mais velho e famoso herói, Utópico.
A ação violenta de Brandon contra o vilão levanta várias questões sobre a “pena de morte” e uso de violência extrema para para-los. Assuntos delicados e que vão na extrema contramão do Código, um conjunto de diretrizes e regras criado pelos heróis veteranos. Pouco a pouco, a nova geração começa a duvidar do código, afinal, para muitos atualmente o mundo é muito menos “preto e branco” e muito mais “cinza”, o que tornaria o Código um conjunto de valores antiquados.
De maneira geral a série tem acertos consideráveis em relação a adaptação de seu material original, levantando as mesmas questões colocadas nos quadrinhos. Mas se engana quem espera ver algo mais próximo a The Boys, aqui a história carrega um tom muito mais dramático, ao contrário do concorrente que faz questão de soar mais aventuresco, hiper violento e, por vezes, caricato.
Todo esse excesso de dramaticidade pode atrapalhar a trama, que acaba cheia de barrigas em um roteiro que arrasta a solução dos problemas por muito mais tempo do que o necessário. Alias, o maior problema de O Legado de Júpiter esta em seu roteiro. Sem ritmo, quer falar sobre tudo: O embate de gerações sobre o Código, os problemas de comportamento de Chloe Sampson (Ele Kampouris) que desistiu da vida de herói, além de apresentar a origem do grupo e estabelecer vilões no passado e no presente. Muitas histórias, muitos pontos de vista e pouquíssimo tempo para resolver ou se aprofundar em qualquer coisa.
Com tantos problemas de desenvolvimento na história, fica até fácil esquecer algumas caracterizações ruins aqui e alguns efeitos especiais de baixo orçamento acolá. Estes, problemas técnicos, até teriam uma solução mais simples para uma vindoura segunda temporada.
Mas nem só de momentos ruins vive O Legado de Júpiter, a trama sobre a história de origem é boa e desperta no mínimo a curiosidade do espectador. A escolha do formato “flashback”, para contar esta lado da história, é que acaba estragando o desenvolvimento. Talvez seja pela experiência dos atores envolvidos, Josh Duhamel, Leslie Bibb, Matt Lanter e Ben Daniels estão timos em cena, cada um carregando seu peso dramático e conseguindo entregar um resultado bastante satisfatório para o enredo. Seria melhor se a série optasse por desenvolver seus oito episódios ali mesmo e deixasse toda a trama dos dias atuais para uma vindoura segunda temporada.
O Legado de Júpiter termina com um gosto amargo, obviamente com muito a explicar em um próximo ano, entretanto com mais ainda a resolver internamente. Aos fãs resta apenas aguardar.