Crítica – O Dublê
Bem humorado, sarcástico e até um pouco vaidoso, O Dublê chega aos cinemas trazendo absolutamente tudo aquilo que se espera de um bom blockbuster.
Se em algum momento, Ryan Gosling abraçava os mais distintos papéis em Hollywood, ao menos pra mim, aqui é a consagração final de um ator que encontrou seu equilíbrio em produções que exploram a comédia de erros, apoiado em personagens naturalmente engraçados, mas que carregam uma profunda magoa que precisa ser resolvida. Uma ironia que quase descola o protagonista da trama destacando os absurdos dos gêneros cinematográficos. Uma metalinguagem, que no caso de O Dublê, transforma um simples filme de gênero em um pastiche de comédia, romance, investigação, e é claro, ação!
Na trama, acompanhamos o dublê, Colt Seavers (Gosling), que após um grave acidente é chamado de volta a ação no filme de estreia de seu antigo interesse amoroso, vivido por Emily Blunt. No meio do caminho, Seavers, esbarra no mistério do desaparecimento de Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson), a estrela do filme. Agora cabe ao dublê, não apenas se provar e reaver sua carreira, mas também encontrar o ator desaparecido e salvar o filme de sua amada.
Deixando um pouco de lado, qualquer analise mais aprofundada no campo técnico, O Dublê é provavelmente a comédia de ação mais interessante que você verá em anos. Não apenas pela óbvia boa direção, ou pelo notório destaque de Ryan Gosling, mas por ser um filme que sabe exatamente onde quer chegar.
Muito embora o roteiro de Drew Pearce, esbarre em construções elaboradas de metalinguagem, o envolvimento de David Leitch, diretor do longa, é o que ganha destaque.
Muito antes de debutar na tela grande com o primeiro John Wick em 2014, Leitch trabalhou como dublê durante anos. Essa experiência lhe rendeu um olhar especial na construção de cenas de ação. Não por acaso, o currículo do diretor conta com filmes como Atômica e o recente Trem-Bala. Sempre obras inspiradas no que diz respeito a ação.
Em O Dublê, Leitch, aproveita não apenas para escrever sua carta de amor à profissão, mas também para deixar uma fina linha de vaidade escapar, enquanto reivindica o estilo cinematográfico para si. Natural para um diretor que conquistou seu lugar trazendo justamente um olhar único ao gênero.
Nas mãos de qualquer outro diretor, talvez fosse até mais simples levar a produção apenas como mais uma comédia romântica. A mocinha, o mocinho e mais alguns tiros de fundo. Provavelmente isso já daria conta do recado. Mas na visão de um ex-dublê, o longa recebe inúmeras camadas a mais.
No fim, fica a esperança de que Hollywood continue apostando em visões únicas, em artistas e diretores que possam entregar mais do que o básico. O público e a indústria, agradecem.