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Crítica – Dark | Temporada 3

Enfim chegamos ao derradeiro final de uma das séries que, certamente já entrou para o imaginário de muitos fãs, como uma das melhores já produzidas. Estamos falando, é claro, de Dark.

Criada pelo suíço Baram bo Odar e o alemão Jantje Friese, Dark consegue soar como uma verdadeira tese sobre paradoxos temporais, analisados através do simples, porém forte, prisma de uma história de amor. Logo de inicio, a dupla já sai vitoriosa em se ater a sua métrica e manter a história com inicio, meio e fim, bem estabelecidos, sem cair na armadilha de estender a série por mais tempo do que o necessário. No último ano da produção, os criadores mantem o ritmo de seu show, concedendo um final digno e satisfatório para uma complicada história repleta de reviravoltas e crises atemporais.

Se ao fim do ano anterior, a grande revelação atribuía ao menos um universo paralelo à equação, a temporada final mergulha nesse conceito e estabelece boa parte de sua história em cima disso, entornando o caldo não apenas com um vai-e-vem entre datas mas agora também entre mundos. Assim como nas temporadas anteriores, ainda que a trama pareça confusa de inicio, absolutamente tudo encontra seu caminho, dando base para que o espectador possa acompanhar cada “peça” desse “jogo” até seu devido lugar.

Roteiro e direção ganham pontos quando notamos que não apenas o grande plot da história é bem explicado e explorado, mas também os pequenos aspectos recebem uma atenção primorosa em seu desenvolvimento. Pequenos mistérios vem e vão ao logo das três temporadas, esses detalhes atribuem camadas a trama principal, deixando tudo ainda mais prazeroso para quem assiste. Para aqueles fãs mais ansiosos por respostas, praticamente tudo ganha uma explicação nessa temporada, seja de uma forma mais clara e direta ou apenas com pinceladas mostrando o caminho, mas esta tudo ali.

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Neste terceiro ano, somos apresentados ao fim desta jornada. O roteiro usa do nosso conceito geral de dualidade para manter nossa atenção presa em uma disputa dicotômica entre bem e mau, fazendo o espectador naturalmente deixar de lado uma concepção básica estabelecida já na primeira temporada, a triquetra. Cabe a personagem Claudia Tiedemann, resgatar o conceito e retornar com a descoberta de que na verdade, as duas realidades retratadas até então, foram geradas por um acidente em uma Terra original e a única maneira de encerrar esse ciclo de vida e morte, é alcançar o inicio de tudo naquela realidade. Ainda seguindo a métrica de anos anteriores, Dark segue dividindo suas temporadas em duas, dedicando sua primeira parte a apresentar as situações e situar seus personagens, deixando as revelações para sua metade final. Talvez aqui isso prejudique um pouco, nada que tire o mérito gigante ou diminua o efeito memorável da série, mas inegavelmente a explicação do conceito final soa como um Deus Ex Machina, quase que brotando do nada, não acompanhamos o “como” Claudia Tiedmann chega a conclusão da existência de uma realidade original, ainda que tudo fique bem amarrado, a revelação soa um tanto simplista demais, principalmente levando em conta os mistérios construídos até então.

Talvez o maior barato de Dark, esteja no prisma pelo qual toda a discussão cientifica e filosófica é visto, o amor. Desde o amor impossível, entre Jonas e Martha, ou mesmo o paternal que fez com que H. G. Tannhaus criasse a primeira maquina do tempo que resulta nos dois mundos apresentados na série, o amor é o catalizador de tudo. Realizar uma série que use conceitos científicos como o paradoxo de bootstrap, ou que discuta filosoficamente livre-arbítrio e determinismo, é uma tarefe difícil, porém realizável. Agora colocar tudo isso em perspectiva de uma história de amor, sem perder o impacto enquanto ficção cientifica, requer uma notória habilidade que Dark demonstrou ter de sobra.

A produção imposta a série por Friese e Odar, beira a perfeição. O requinte gráfico usado nas transições, figurinos, fotografia e direção de arte, para sutilmente mostrar a que realidade pertence a cena mostrada, é fantástico. Todo esse cuidado gera uma atmosfera totalmente singular para os ambientes. Por fim a trilha sonora de Ben Frost chega a ser assombrosamente assertiva, destaque para a escolha da cena final, ao som de What a Wonderful World, na versão do projeto musical experimental de austríaca Anja Plaschg, o Soap&Skin.

Ainda após seu fim, Dark oferece um bom espaço para que os fãs continuem as especulações, como será a vida para aqueles que existiam fora do ciclo temporal? Um jonas ainda nascerá, mas qual será o destino desse?

Assim como seu plot, Dark é uma daquelas séries que se tornará atemporal, entra para o hall de grandes títulos como Breaking Bad, Laftovers e algumas poucas outras, que até hoje carregam uma verdadeira legião de fãs.

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