Crítica – Clube dos Vândalos
Em uma produção extremamente contemplativa, Clube dos Vândalos chega aos cinemas remontando clássicos do cinema, em uma história muito mais crua e direta do que o público geral pode estar acostumado.
Talvez, se você for apaixonado por filmes como Os Bons Companheiros, Sem Destino e produções do tipo, a simplicidade da história contada em Clube dos Vândalos, possa ter um impacto maior em você. Caso contrário, você pode demorar um pouco a se acostumar com esse estilo contemplativo que o diretor Jeff Nichols escolhe para contar essa história.
No longa, acompanhamos a história do Motoclube Vandals, através da ótica de Kathy (Jodie Comer), a garota que entra por acaso em um bar de motoqueiros e acaba se apaixonando pelo enigmático Benny (Austin Butler). Pouco a pouco, a recatada moça do subúrbio se vê totalmente envolvida neste selvagem mundo, expandindo seus horizontes na garupa de uma moto. Lentamente, ao longo de quase 10 anos de história, vemos o clube perdendo uma certa magia inocente, para se transformar em uma gangue perigosa.
Ainda que inocência e motoclube, possam não cair bem na mesma frase, Nichols se esforça para criar um retrato visceral da sociedade durante os anos 60. Onde, apesar de motociclistas serem sempre sinônimos de perigo, neste caso em especifico, o grupo servia muito mais como um ponto de encontro para um bando de desajustados.
Se no inicio desta história, temos Johnny (Tom Hardy), se inspirando em Marlon Brando para criar seu motoclube, o ponto de virada vem mais tarde, quando um delinquente, vivido por Toby Wallace, se vê igualmente encantado ao presenciar o comboio de motos desfilando pela rua. É nesta visão dicotômica apresentada pelo diretor que reside um dos maiores acertos do filme.
Em tempos de produções rápidas, que sempre se apoiam em reviravoltas gigantescas, ou cenas de ação grandiosas, aqui temos uma produção que escolhe um ritmo muito mais calmo. E talvez seja exatamente isso o que torna essa história tão instigante. Não espera nenhuma cena de perseguição muito elaborada, a estética que o diretor busca é um pouco mais poética, um tanto mais filosófica.
Se o longa traz algum erro, talvez seja apoiar boa parte de sua história no personagem de Austin Butler. Não pela falta de talento do ator, que por sinal está muito bem no papel, mas simplesmente por Benny atuar muito mais como um catalizador do que como um protagonista. O personagem de poucas palavras, normalmente reflete o ambiente em que está. Mas dificilmente aceita o posto de molda-lo. Entender isso, na jornada de Benny e Jhonny, é fundamental para apreciar o longa.
Clube dos Vândalos termina sendo um ótimo passeio por uma história agridoce, em uma jornada que prima muito mais pelo caminho percorrido do que pelo destino final.