Crítica – Brightburn: Filho das Trevas
Dono de uma história significativamente simples, Brightburn, entra na brincadeira e entoa sua própria versão da criação do Superman, invertendo os valores do herói e levando o personagem para uma construção muito mais sombria do que se poderia imaginar.
Idealizado e produzido por James Gunn, mas escrito por seu irmão e seu primo, Brian e Mark Gunn, o longa consegue mescar, com uma certa dose de sucesso, dois estilos extremamente populares da cultura pop: o cinema de herói e o de terror. Na história, um jovem e amável casal, residente de uma cidadezinha rural dos Estados Unidos, resolve adotar e criar uma criança que caiu do céu em uma espaçonave. A coisa começa a desandar, quando o garoto, aos 12 anos, ao invés de demonstrar altruísmo e bondade acaba desenvolvendo o que de pior existe nas características humanas.
O mito da criação do Superman, já foi apresentado e recriado diversas vezes, seja no cinema, na TV ou mesmo nos quadrinhos, você certamente já deve ter sido a presentado a pelo menos 2 ou 3 versão do herói. Em Brightburn, este arquétipo é muito bem explorado nos minutos inicias do longa, onde o diretor David Yarovesky ainda faz questão de homenagear o personagem emulando enquadramentos e até mesmo a fotografia usada em produções recentes do herói. Mas se engana quem acha que o longa se resume a isso, Yarovesky vai além e se mostra um temendo diretor ao conseguir criar cenas memoráveis e ditar um ritmo profundamente angustiante. Méritos também a Elizabeth Banks, que interpreta Tori Brayer, a “mãe adotiva” e ao próprio Jackson A. Dunn, que da vida ao poderoso Brandon Brayer, os quais protagonizam as mais celebres cenas do filme.
Como dito anteriormente, Brightburn bebe muito na fonte do terror e não é qualquer terror. Para dar vida aos momentos mais apreensíveis, o roteiro e a direção buscam inspiração no mestre John Carpenter construindo cenas geladas para na sequencia abusar de momentos jumpscare. Outra escolha do diretor é o exagero gráfico, aqui podendo ser comparado ao Jogos Mortais, mostrando em detalhes toda a sanguinolência embutida nos atos perversos do personagem.
Mas nem só de heróis e terror vive o longa. A primeira vista pode ser difícil enxergar, mas existe um importante sub texto a ser levado em conta aqui. A dramaticidade que envolve vários distúrbios infantis, que merecem atenção, uma vez que não tratados caminham facilmente para um terreno agravante, como a psicopatia. Em tempos de jovens armados invadindo escolas, esta é uma discussão que merece muita atenção.
De maneira geral, Brightburn cumpre seu papel e constrói um longa solido, simples e tenso ao mesmo tempo. É bom ver cineastas como James Gunn emprestando sua credibilidade para produções pouco convencionais como esta. Que venham mais projetos assim!