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Crítica – Batem à Porta

Filosofal e intensamente reflexivo, M. Night Shayamalan, abandona seus próprios estereótipos cinematográficos para entregar uma de suas obras mais reflexivas no suspense visceral Batem à Porta.

Ainda que seja quase impossível não enxergar o cineasta como um refém de sua própria formula de sucesso, sempre com uma reviravolta mirabolante e inesperada, Shayamalan parece ter aprendido muito com fracassos recentes. Ainda que Vidro e Tempo tenham arranhado a imagem do diretor é difícil não se empolgar com qualquer novo projeto. Desta vez, na introspectiva adaptação do livro Batem à Porta, de Paul Tremblay, Shayamalan consegue trazer a superfície o que tem de melhor, seu olhar aguçado e sua capacidade inebriante de gerar ansiedade no expectador, explorando ângulos e perspectivas, mas sem precisar de exageros gráficos.

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Na trama, o casal Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge) estão passando férias em uma cabana na floresta, junto de sua filha pequena Wen (Kristen Cui). Tudo vai bem, até que a família é confrontada por quatro estranhos, que lhes propõe uma escolha impossível, eles devem escolher um deles para se sacrificar, ou o apocalipse bíblico se espalhará pelo mundo.

Saber mais do que o básico sobre a trama pode afetar a experiência proposta pelo longa, afinal todo o suspense se apoia em uma jornada reflexiva acerca da realidade do cenário proposto pelos estranhos. Como saber se realmente existe um apocalipse acontecendo do lado de fora? Como saber se tudo não passa de uma farsa?

A questão, apesar de simples, é trabalhada em um roteiro e uma direção primorosa. Sendo ais que suficiente para prender o espectador na cadeira por quase duas horas.

O papel dos “Estranhos Invasores” na trama é fundamental, para tanto, a atuação dos personagens deveria ser acima da média. E esse é um dos maiores acertos da produção. Dave Bautista (Guardiões da Galáxia) e Rupert Grint (Harry Potter), talvez tenham os papeis mais difíceis, sendo um contraponto, um ao outro, entre brutalidade e gentileza. Já Amuka-Bird (Tempo) e Abby Quinn (Depois do Casamento), entregam uma atuação, em certo ponto, bastante emocional servindo cuidado e carinho com suas personagens.

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O roteiro, de maneira inteligente, ainda arruma tempo para fazer mais que o básico. Muito além de propor reflexões profundas acerca do amor, fé e família, ainda arruma tempo para levantar questões importantes sobre a comunidade LGBTQIA+, tudo isso enquanto brinca com os batidos clichês de filmes sobre invasão de casas, criando uma atmosfera por vezes angustiante e sufocante.

Entretanto, todo esse trabalho e a habilidade do diretor em manter o espectador entretido no suspense, não eximiu a produção de alguns problemas de execução. Na tentativa de criar respiros na história, o filme cai na armadilha de mostrar demais o mundo fora da cabana, seja em flashbacks ou pela TV, não apenas o mistério vai perdendo força como também o CGI ruim atrapalha e tira completamente o espectador da imersão.

No fim das contas Batem à Porta termina como mais um dos pontos altos da carreira de Shayamalan, que desta vez encara seu público de frente, subverte as expectativas e entrega uma obra densa, reflexiva e muito boa.

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