Crítica – Barbie
Muito mais do que apenas um brinquedo, Greta Gerwig traz Barbie aos cinemas com status de ícone pop cultural. Cercado por um discurso forte e relevante a produção acerta em um equilíbrio fino entre forma e conteúdo.
Na história acompanhamos, Barbie (Margot Robbie), vivendo plenamente feliz em seu mundo perfeito feito de plástico. Tudo vai bem, até que pensamento estranhos começam a passar pela cabeça da protagonista. Quando esses pensamentos começam a afetar seu corpo e sua realidade, é hora da boneca, e seu companheiro Ken (Ryan Gosling), embarcarem em uma aventura pelo mundo real para tentar resolver toda essa bagunça. Mas sem imaginar as consequências dessa viagem para os dois.
Definitivamente não é sempre que uma produção tem o poder de, logo nos primeiros minutos, deixar o expectador profundamente confortável. Greta Gerwig, costuma ter esse poder em seus filmes e talvez seja exatamente isso que faz de Barbie algo tão especial.
O conforto aqui está ligado a forma com que a produção é feita. O roteiro é fácil e convidativo. Quase sem perceber você se pega envolvido com aqueles personagens, suas jornadas e seus dramas. A narrativa não enrola ou se perde em abstrações filosóficas. O que precisa ser dito, é dito! E a parte mais dura do discurso, vem acompanhado de um humor acido, irônico ou mesmo até debochado.
A história ganha pontos em apresentar uma aventura de amadurecimento, que opõe a ingenuidade de um mundo perfeito, aos conhecidos problemas sexistas e existenciais do mundo real. Mas sempre sem perder o charme de uma narrativa “cool”, com uma produção criativa que enche os olhos do espectador.
É claro que toda uma ressignificação nos valores da boneca mais conhecida do mundo foi necessária, afinal, de maneira geral, é simples associar a Barbie a uma época em que ela não passava de um modelo estético a ser seguido por uma geração, que depois passou a ser durante criticada pela geração seguinte. Mas a autocrítica faz parte de uma narrativa que busca repaginar a marca para novos tempos.
Seria lógico e esperado que Barbie fizesse uso de toda sua acidez para criticar a dinâmica entre homem e mulher, principalmente na sociedade atual. E o discurso está lá, alto e claro. Entretanto, mais do que isso, o longa entrega uma jornada especial para seus protagonistas, onde a solução não desagua em um “mundo perfeito”, mas sim em uma profunda reflexão sobre aceitação, sociedade, e principalmente buscar seu lugar dentro dela.
Certamente toda essa reflexão só ganha o peso que tem, por contar com um elenco forte e entregue aos seus personagens. Margot Robbie prova, cena a cena, que não haveria outra para o papel da protagonista. Robbie é a própria Barbie e ponto! Já Ryan Gosling, abusa de sua veia cômica em um atuação que flutua entre um Ken cheio de caras e bocas, completamente caricato, e outro que luta para buscar seu lugar em um mundo comandado por Barbies. Some a isso participações mais que especiais de Emma Mackey, Simu Liu, Michael Cera, Kate McKinnon, Alexandra Shipp, Ncuti Gatwa, entre vários outros afinadíssimos e você terá a certeza de ótimas cenas uma atrás da outra.
De maneira geral, Barbie irá agradar até mesmo aqueles que jamais sentirão no dia-a-dia o peso de um mundo sexista. Muito disso, por ser uma produção que se preocupa tanto em entreter quanto em discursar. O conteúdo não se perde, é ouvido e compreendido. Enquanto a forma, descolada e moderna, apenas embala de maneira exuberante o produto final.