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Crítica – Gladiador 2

Cercado por uma insalubre obrigação de sequenciar um clássico do cinema, Gladiador 2 chega aos cinemas explorando a decadência de Roma para trazer uma história de legado e esperança.  

Entre sequências desnecessárias ou incessantemente auto explicativas, e perspicazes obras que desnudam um estilo de vida suntuoso e decadente daqueles que detém o poder, Ridley Scott, após o sucesso absoluto de Gladiador, produziu incansavelmente nos últimos anos. Para qualquer um que tenha dúvidas sobre a qualidade, ou mesmo necessidade, desta sequência, vale dizer logo que aqui o diretor encontrou um equilíbrio mais do que descente entre criar um épico empolgante, que respeita o passado, mas que ao mesmo tempo não deixa de apontar para o futuro.

Na história, acompanhamos a jornada de Lucius (Paul Mescal), agora um jovem adulto que mesmo refugiado em terras distantes, acaba encontrando seu destino na arena do Coliseu, assim como seu herói de infância Maximus. Nutrido por uma raiva incontrolável, Lucius terá um papel importante no jogo de poder de uma decadente Roma que sofre nas mãos dos Imperadores Gêmeos, Geta e Caracalla (Joseph Quinn e Fred Hechinger).

Logo a primeira cena do longa evoca um contraponto interessante. Enquanto no original éramos apresentados a um heroico exército romano, comandado por Maximus, lutando contra selvagens. Aqui vemos um pequeno vilarejo africano sendo atacado, invadido e dizimado, pelo agora perverso exercito romano. A ideia, sintetiza toda a decadência do império, que outrora almejou viver em uma romântica ideia de liberdade e esperança, que fora enterrada junto de Marcus Aurelius.

A ideia maniqueísta, onde heróis e vilões entram um combate mortal em nome da virtude, aqui é deixada de lado por Scott, que prefere trabalhar muito mais com figuras cinzentas. Acacius, personagem vivido por Pedro Pascal, aborda bem o pensamento. Um oficial de alta patente, integro, mas que se coloca a serviço das mais nefastas figuras da história. A dinâmica do personagem instiga a audiência, quanto do sangue derramado suja suas mãos?

Ainda dentro da mecânica acinzentada da construção de personagens, temos Macrinus, um senhor de gladiadores, vivido magistralmente por Denzel Washington. O passado enigmático do personagem ajuda a criar o pior tipo de antagonista. Aquele que age pelas sombras, que manipula e arquiteta sem que ninguém perceba, por vezes, nem mesmo o espectador.

Mas se a atuação de Denzel Washington é o destaque que catapulta o longa para o destaque, o mesmo não ocorre com o resto. Com um elenco recheado de nomes populares, o roteiro precisa dividir muito o tempo para cada personagem e acaba nem sempre aprofundando alguns temas necessários, principalmente do protagonista. Ainda que a produção se utilize de flashbacks para aquecer o público com nostalgia, é impossível não sentir falta de um mergulho mais longo na história de Lucius. Todo seu dilema, acerca de sua real identidade, o reencontro com sua mãe, a relação com sua esposa e o enfrentamento de seu destino, parecem um tanto corridos em tela. É muita história, passando muito rápido.

Ainda assim, mesmo com algumas falhas pelo caminho, Gladiador 2 enche os olhos da audiência com uma produção épica em todos os sentidos. E mesmo que não alcance a grandeza de seu antecessor, chega realmente perto. O que já é bem mais que muitos outros lançamentos recentes.