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Coringa: Delírio a Dois – Crítica

Quando Todd Phillips escolhe abrir a esperada sequência Coringa: Delírio a dois, com uma animação, estilo cartoon, que mostra Arthur Fleck (Joaquim Phoenix) confrontando sua sombra vestida como o Coringa, já fica clara a intenção do diretor quanto a sua obra. Toda a história da produção está ali, de forma clara, e o que vemos em sequencia são mais de duas horas de um longa pouco carismático, em uma narrativa insossa e quase desinteressante.

Extremamente distante do que muitos poderiam esperar, Coringa: Delírio a Dois, escolhe se apoiar quase que por completo no drama. Deixando o caos, marca registrada do personagem em questão, quase que totalmente de lado. 

Na trama acompanhamos Arthur Fleck enfrentando as consequências de seus atos no filme anterior. Agora preso no Arkham, somos apresentados a um Fleck letárgico, sofrendo abusos dos guardas dia após dia. Mas tudo muda quando Arthur passa pela área de segurança mínima da instituição e conhece Lee Quinzel (Lady Gaga). Uma enigmática paciente com uma forte atração pelo Coringa, veja bem, pelo Coringa e não por Arthur. Não demora até que os dois se apaixonem e se unam instigando o pior um no outro.

Dizer que Coringa: Delírio a Dois é um filme ruim, exige no mínimo uma má vontade por parte de um expectador entediado. A direção de Todd Phillips salta os olhos, cena após cena. A construção de ambiente e tudo o que gira em torno no personagem principal soa depressivo, melancólico, exatamente como o roteiro pede. Entretanto, ao longo de mais de horas, é fácil notar alguns excessos desnecessários. O problema do longa está longe de ser visual, ou mesmo conceitual, mas está muito mais atrelado a desinteressante história contada.

Se por um lado, Lady Gaga entrega uma atuação muito acima da média, a atriz e cantora parece precisar fazer mágica com o roteiro que lhe é dado. Toda a produção parece uma grande preparação para a personagem da Arlequina, que conta ainda com uma construção que bebe muito mais fielmente da fonte original do que o próprio protagonista, mas que ao final tem sua história interrompida abruptamente, sem qualquer tipo de final satisfatório para a personagem.

As cenas musicais, ainda que usem e abusem do excelente talento natural de Gaga, começam a cansar a audiência por repetirem seu propósito excessivamente. O espectador já entendeu os delírios, já pegou as referências, mas a história teima em subitamente parar o enredo para incluir mais um número no já engessado roteiro.

Joaquim Phoenix, por sua vez, segue entregando uma atuação visceral, ainda mais dramática e mais dolorosa. Mas a esta altura já ficou claro que não estamos vendo qualquer resquício de um dos maiores vilões da cultura pop. Sobra para o espectador tentar, pelo menos, embarcar na onda do primeiro filme. Mas até a subjetividade, quase poética, colocada do longa original se perde em uma história simplesmente desnecessária, expositiva e que termina flertando com a ideia de que o próprio Coringa pode ser uma vítima, o resultado de uma soma interminável de abusos e descasos que gerou uma explosão de loucura vinda de um homem triste, perturbado e solitário.

No fim, Coringa: Delírio a Dois, é um filme grande demais para uma história muito simples. A caminhada do ponto A ao B, é curta. Voltando a animação que abre o filme, toda a conclusão está ali. Resta ao público aproveitar uma viagem musical turbulenta e um pouco delirante.