Crítica – Fale Comigo
Fazendo jus ao burburinho levantado antes mesmo de sua estreia, Fale Comigo chega aos cinemas brasileiros alcançando um fino equilíbrio entre uma clássica formula do terror, e uma moderna representação do jovem.
A trama acompanha um grupo de adolescentes que encontra uma forma no mínimo duvidosa de como se divertir em festas. Ao tocar em uma estranha mão embalsamada, os jovens conseguem se comunicar com espíritos. Ainda que Mia (Sophia Wilde), em um primeiro momento, faça isso apenas para se enturmar, pouco a pouco a garota se vê perigosamente fascinada pelo objeto, principalmente após descobrir que pode usa-lo para se comunicar com sua mãe já falecida.
A formula básica dos clássicos filmes de terror, é facilmente notada já pela sinopse da produção. Entretanto, o que destaca esse filme é a atmosfera criada. Os diretores Danny e Michael Philippou, nitidamente se esforçam para não cair no clichê simplista dos jump scares. A representação incomodamente real do comportamento adolescente, junto a um terror corporal bastante gráfico, é o que da um tom único ao longa.
É fácil perceber que roteiro e elenco alcançaram uma certa simbiose perfeita. Majoritariamente conduzido por atores desconhecidos, como todo bom filme de terror precisa fazer, a história vai além do clássico e batido, ao propor discussões mais profundas.
Se no passado, todo jovem era retratado, quase que futilmente, como um posso sem fim de hormônios, Fale Comigo nos leva a refletir sobre como somos persuadidos a sair da nossa zona de conforto apenas para nos enturmarmos. Sobre como somos tomados por um sentimento involuntário de alcançar o proibido, desafiar o moralmente certo. Sobre como, na adolescência, facilmente nos viciamos no perigoso.
Ainda assim, mesmo encontrando tempo para propor diversas discussões, a produção sabe até onde consegue chegar sem se perder em meio a tanta informação. As reflexões propostas tem a intenção de gerar identificação, que por consequência te coloca no meio de toda aquela situação absurda, tornando tudo um pouco mais pessoal para o expectador.
No final é quase impossível dizer se esse é o não o melhor filme de terror do ano, principalmente com tantos concorrentes ao cargo em 2023. Mas é certo dizer que, pelo menos até o momento, Fale Comigo foi a produção que melhor entendeu o gênero em que está inserido. Soube se aproveitar da formula básica e gerou um ótimo entretenimento.