Crítica – The Flash
Em meio a polêmicas pesadas envolvendo seu protagonista e um notório desgaste da já batida fórmula de filme de super-heróis, Flash chega aos cinemas encontrando um tom cinematográfico que equilibra o nostálgico e o moderno. Agrada o fã dos quadrinhos e ainda empolga aqueles que já desacreditavam no potencial do gênero.
A trama acompanha Barry Allen (Ezra Miller), já adaptado a vida de super herói. Ainda à serviço da Liga da Justiça, aqui comandada por Batman (Ben Affleck), o Velocista Escarlate recebe missões pontuais, funcionando quase como um pupilo do Homem Morcego. Após um revés no julgamento de seu pai, Allen acredita que pode mudar sua vida e curar suas cicatrizes emocionais voltando no tempo e alterando o dia em que sua mãe foi assassinada. A ação não sai como esperado, abrindo portas para o multiverso e alterando completamente o mundo. Agora cabe a Barry, sua versão alternativa e seus novos aliados, salvarem aquela versão da realidade.
Se por um lado o gênero de super-heróis no cinema vem se desgastando pela falta de originalidade e um tom pasteurizado nas produções recentes em geral, aqui esse problema passa longe. Andy Muschietti emprega uma identidade funcional à produção, tanto na direção dos momentos de ação quanto na escolha dos efeitos especiais e da montagem de cena. Absolutamente tudo impressiona logo nos primeiros minutos de filme. O diretor já havia mostrado esse olhar apurado em projetos passados, como em IT-A Coisa, aqui especificamente, o casamento entre direção e produção é praticamente irretocável.
Muito distante das ações condenáveis feitas pelo protagonista aqui fora, em cena, Ezra Miller se mostra um ator completo. Interpretando duas versões de seu personagem, Miller vai da comédia ao drama em um piscar de olhos. A jornada de dor e aceitação que o roteiro impõe sobre o personagem principal é de fácil entendimento e identificação ao público, além de dar espaço para que o ator visivelmente se sinta mais livre em cena.
Certamente uma história recheada de participações especiais como esta, não perderia tempo em apelar ao nostalgico. E para isso, a cereja no bolo é o retorno de Michael Keaton como Batman. Muito além de apenas reprisar um papel icônico para gerações, Keaton ainda arruma espaço para preencher lacunas e evoluir seu personagem de maneira física e emocional. Para os fãs dos filmes do final dos anos 80, estrelados pelo ator, vai ser fácil notar o peso que as escolhas do passado estão exercendo sobre o personagem.
Por outro lado, Sasha Calle, que fecha a trinca de super-heróis do filme dando vida à Supergirl, não alcança o mesmo brilho de seus companheiros em cena. Muito disso vem do fato do roteiro subaproveitar a personagem, ainda que tivesse muitas variáveis para equilibrar, era de se esperar que Calle tivesse mais tempo de tela, ao menos para entregar um pouco mais. A Supergirl tem lugar e motivo para estar na história, mas não chega a ter os holofotes virados para ela em momento algum.
Ainda falando em roteiro, por mais que parte da audiência possa encontrar algumas sobras aqui e acolá, a história de maneira geral certamente vai agradar muito. Os dilemas são de fácil identificação e toda a complexidade do multiverso e suas incontáveis linhas temporais, ganham uma explicação simplificada com o auxilio visual inusitado de um prato de macarrão. Uma notória vitória sobre a maior rival no mercado, que ainda patina ao explicar o conceito para sua audiência mesmo após tantas produções.
Então, The Flash é mesmo um dos melhores filmes de super-herói já feitos? É provável que não. Longe disso, alias. O filme não deixa de sofrer com a artificialidade exagerada no uso do CGI, com o subaproveitamento de bons personagens, soluções bobas, e principalmente, nos constantes vazamentos da trama pela internet que acabam por prejudicar algumas surpresas na produção. Mas absolutamente nada disso tem força o suficiente para te tirar da imersão proporcionada pelo filme. E isso é um mérito e tanto.
Para quem quer saber se esse é o filme que de fato aponta para o futuro do novo DCU de James Gunn, bom, sim e não! The Flash estabelece que coisas podem ser mudadas em grades e pequenas escalas, mas ainda está longe de dar qualquer pista mais contundente sobre o futuro. Ainda assim, com um multiverso de possibilidades em aberto, é inevitável que o fã da DC Comics saia da sala de cinema com um belo sorriso no rosto.