Crítica – Matrix Resurrections
Provavelmente uma das sequências mais aguardadas, de um dos maiores clássicos do cinema, enfim chegou aos cinemas. Matrix Resurrections, faz sua estreia modernizando sua história sem perder um tom profundamente nostálgico, fardo esse, que por vezes ajuda mas também atrapalha e muito o andamento da trama.
Como já era de se esperar, o filme começa de maneira complexa. Para quem assistiu a trilogia original fica claro que aquele acordo que Neo (Keanu Reeves) fez com as máquinas não esta sendo cumprido, ainda existe uma Matrix ativa, e nela, Thomas A. Anderson agora trabalha como um game designer de sucesso, em um mundo onde a “matrix” é apenas um jogo feito por ele.
Talvez falar mais do que isso, seja acabar dando algum spoiler, e como nas produções originais, entrar na sala de cinema sem ter a menor ideia do que vai acontecer, faz parte da experiência de Matrix. Entretanto, vale ressaltar alguns pontos, a complexidade proposta nos atos inicias do longa chegam a ser um tanto desmedida. Sem contar muito, o roteiro coloca o espectador em um labirinto de espelhos, dentro de uma caixa, envolta por outra e em seguida, mais uma. É fácil se perder na narrativa, sem saber o que é real, o que faz parte da Matrix criada pelas máquinas e o que faz parte do jogo “Matrix”, criado por Neo.
Toda essa complexidade poderia soar natural, tendo em vista os filmes anteriores que usavam de signos para propor temas e discussões muito mais abrangentes que o próprio roteiro, mas não é o que acontece aqui. Matrix Resurrections trata basicamente de resgatar um Neo aprisionado e envelhecido e sequencialmente uma Trinity (Carrie-Anne Moss), igualmente desmemoriada e aprisionada. Exigir uma trama filosoficamente complexa e intrincada dentro de um argumento tão simples, talvez tenha sido o maior problema do longa.
Mas ainda existe nostalgia em rever na tela grande situações icônica e realidades distópicas? É claro que sim, mas ao mesmo tempo com a nostalgia, vem a quebra de expectativa. Em certo ponto, mostrar uma “nova” Zion muito menos tribal e com mais foco na civilização, na união e na igualdade, é um tiro certo em uma história que sempre surpreendeu por abraçar discussões no tipo. Ainda assim, por outro lado o recast de novos atores para personagens antigos parece forçado e, fatalmente, muito mal explicado.
O visual, icônico nos anos 90, é mais um fator que sofre com a imposição da nostalgia. A evolução proposta nas “imagens residuais” dos novos personagens se encaixam com perfeição em um tom retrô certeiro e condizente em um impacto visual moderno. Entretanto, quando precisamos rever Neo e Trinity com os famosos sobretudo estilizados e os famigerados óculos escuros, é aí que a coisa aperta. Talvez fosse necessário encarar que ambos os atores já estão na casa dos 50 anos, talvez tenha faltado amadurecer os personagens, tanto no que diz respeito ao figurino, como nas situações pelas quais eles passam.
Em termos de atuação, certamente você não vai encontrar ninguém fazendo feio. Por aqui o maior destaque vai para Jessica Henwick, como Bugs. Certamente Reeves e Moss desempenham um ótimo trabalho também, mas nesse ponto o que falha é o roteiro, impondo situações quase bizarras aos atores e terminando com uma edição que hora beira o lúdico fantástico e hora desmonta para algumas escolhas de ângulos totalmente descabíveis e em determinados momentos beirando o tosco, como em um certa cena de voo.
Sem dar muitos spoilers, existe aqui uma significativa importância dada a Trinity neste “novo mundo”. Uma evolução natural que com certeza irá deixar aquela gama de fãs machistas e sexistas incomodados. Entretanto, ainda que a evolução seja natural, principalmente levando em conta a história de mudança e aceitação das Irmãs Wachowski nos últimos anos, o roteiro não alcança o nível certo quando fala sobre o assunto. Ainda que a personagem de Moss sempre tivesse grande importância no cânone de Matrix, simplificar sua existência com base no “poder do amor”, pode não ser bem o que os fãs tinham em mente. Talvez, e aqui é apenas uma opinião, retirar o próprio Neo da equação desse mais significado ao voo alçado por Trinity, que tem sim o potencial certo para protagonizar até uma nova trilogia.
No fim, é certo que com o passar do tempo ainda encontraremos vários signos e resignificados para as muitas cenas e diálogos da produção. Afinal, Matrix é exatamente sobre isso. Ainda assim em termos de qualidade e narrativa, o quarto filme da franquia não desempenha o mesmo nível de seus antecessores, propondo um retorno fraco para um dos título mais importantes do cinema moderno.