Crítica – Space Force
Com alguma badalação e um elenco consideravelmente forte, Space Force chega a Netflix como uma comédia cheia de potencial mas extremamente subaproveitada.
A série, criada pela dupla Greg Daniels e Steve Carell, a mesma da versão americana de The Office, tem base no projeto real de Donald Trump, iniciado em 2018, que visava criar uma força espacial cujo objetivo seria colonizar o espaço. Ainda que a ideia soasse estapafúrdia, a força realmente existe e é motivo de piada para muitos envolvidos no governo americano. Daniels e Carell se apoiam totalmente nessa premissa e contam o dia-a-dia no campus da Força Espacial dos Estados Unidos da América.
Na história, acompanhamos o general quatro estrelas Mark Naird, personagem de Carell, que ao enfim receber a promoção pela qual tanto lutou, ganha um lugar à mesa dos principais líderes das Forças Armadas americana. Contudo a promoção vem com um ônus, ficar a frente do projeto da Força Espacial e estabelecer uma base na Lua até 2024. Um anos se passa e ainda que Naird esteja fazendo seu melhor à frente do projeto, cumprir a missão se torna uma cômica desventura, enquanto o general tenta equilibrar sua inaptidão para tomadas de decisão, com sua vida intima, que inclui uma filha adolescente e uma esposa presa.
Ainda que todos os elementos para uma boa comédia estejam à mesa, Space Force erra a mão no roteiro. Simplista e por vezes confusa, a série demora para estabelecer um objetivo central, acabando por apagar o brilho de vários personagens com grande potencial. Muito distante do timming cômico oferecido de The Office, aqui a dupla Daniels e Carell, não parecem conseguir imprimir seu ritmo, se apoiando muito mais em um humor de ocasião, do que em desenvolvimento.
Talvez um dos pontos mais altos esteja na atuação de John Malkovich, como o cientista chefe Dr. Adrian Mallory. Sendo o braço direito de Naird, ambos não poderiam ser mais diferentes. Quando a série foca na relação do cientista com o general, a qualidade sobe muito. Enquanto Naird precisa tomar decisões técnicas mesmo sem fazer ideia de como tudo aquilo funciona, cabe a Mallory ser a voz da razão em meio a caos. Malkovich e Carell, apesar de todos os males do roteiro, são cirúrgicos e conseguem arrancar todo tipo de emoção do espectador, quem dera a série desse mais espaço para essa relação desde o inicio.
De maneira geral, é iminente a sensação de que a história foi se adaptando enquanto era filmada, vide o subaproveitamento de vários bons personagens, em especial a de Lisa Kudrow, que da vida a esposa de Naird, Meggie. Ainda que essa não precisasse ser o grande retorno de Kudrow às telas, o papel que lhe deram não gera qualquer importância para a trama, além de deixar uma ótima atriz boa parte dos oito episódios sem sequer aparecer.
Este mesmo descaso acontece com Diana Silvers, a filha do General Naird, Erin. Pronta para servir como um recurso rebelde/emocional da trama, esta é mais um personagem que promete um desenvolvimento interessante mais perde espaço subitamente sem muita explicação.
Por fim, Space Force tem muito potencial para se estabelecer como uma série de comédia, mas precisa desesperadamente entender seus pontos fortes e se apoiar neles. Contudo, levando em conta o pouco barulho que a série esta fazendo e algumas duras críticas que estão surgindo, é pouco provável que retorne para um segundo ano.