Crítica – La Casa de Papel: Parte 4
Enfim chegou o momento de conferirmos o desfecho do arriscado plano do assalto ao Banco da Espanha, ou na verdade quase isso. A quarta parte de La Casa de Papel, ganha pontos ao melhor seu storytelling, mas derrapa repetindo argumentos e desgastando sua fórmula.
A segunda parte, deste segundo ano da série, inicia exatamente da onde paramos anteriormente, com um Professor (Álvaro Morte) devastado por acreditar na morte de sua amada, e dentro do banco uma equipe praticamente desmontada, física e emocionalmente. Aqui a temporada mergulha em jogo de gato e rato, colocando como maior antagonista a Inspetora Sierra (Najwa Nimri), qua já assumia esse papel no ano anterior, mas aqui conhecemos melhor suas motivações e até suas fraquezas. Do outro lado, a equipe precisa lidar com problemas internos, quando Palermo (Rodrigo de la Serna), se mostra capaz de fazer qualquer coisa para tomar o controle do assalto, inclusive soltar o perigoso chefe da segurança, apenas para causar o caos.
Um dos melhor pontos desta temporada, esta na prática para contar a história, com destaque para a direção e roteiro, cada episódio conta com um ritmo próprio e acertado, tudo contribuindo para que o capítulo não canse o espectado que se vê ligado a cada virada da trama. Já no quesito atuação, alguns destaques precisam ser lembrados, em especial Najwa Nimri, que consegue transpassar muito a cada cena da Inspetora Sierra, principalmente nos interrogatórios com Lisboa (Itziar Ituño). Alba Flores, a Nairobi, também ganha importância, com sua sobrevivência colocada em cheque ao fim do ano anterior, a personagem tem momentos chaves muito bem feitos e atuados.
Talvez, o que mais pegue em La Casa de Papel seja o desgaste de sua fórmula. Durante o assalto a Casa da Moeda, retratado nas duas primeiras partes da série, tudo era novidade, se encaixava e surpreendia com sucesso. O mesmo já não acontece aqui. O jogo de gato e rato entre a policia e a equipe inevitavelmente perde a graça. Todo o preparo do Professor, já começa a se tornar um tanto óbvio para o espectador, que mesmo não sabendo exatamente como, tem a convicção que o líder da equipe vai tirar todos dessa. Ainda que neste ano a série tente subverter esses valores, aparentando um Professor desorientado, preocupado com a possível morte de seu grande amor, ou mesmo com a efetiva morte de um importante membro da equipe, a série sempre volta ao básico, a construção de uma plano genial que coloca a equipe por cima de novo. Cansativo e repetitivo.
Dois outros elementos foram trazidos para este novo ano, na tentativa de agregar mais ao stigma simples de “policia e ladrão”, entretanto sem grande destaque. Em primeiro vale ressaltar a condição coloca ao personagem de Arturo Román (Enrique Arce), que sem muita utilidade na trama, acaba por servir como um escape para a irá do espectador. Em um plot que envolve abuso sexual, Arturito, é o único personagem sem dualidade, um “vilão” mais concreto. Ainda que a trama dele desperte, com razão, um nojo inerente ao personagem, o plot parece descolado da história principal, quase que gratuito. Do outro lado, fazendo as vezes de um inimigo de ocasião esta o chefe da segurança, Gandía (José Manuel Poga), que após se livrar da condição de refém, se arma para aniquilar a equipe de assaltantes. A trama ganha tons exagerados aqui, grandes tiroteios, uma perseguição desenfreada pelos corredores do banco, dando espaço até para cenas do chefe de segurança desviando de tiros quase no estilo Matrix. Ainda que esse plot desemboque em uma das cenas mais tristes de toda a série, Gandía será pouco lembrado pelos fãs.
Definitivamente o sentimento que fica, é que o ideal aqui seria não levar a série tão longe, estamos indo para a quinta parte em uma história que parece não ter mais para onde ir. O desfecho precisa vir logo, antes que La Casa de Papel acaba por sofrer do mesmo mal que outras produções como Lost, por exemplo, que depois de esticar sua trama ao máximo, não foi capaz de entregar um final digno, relevante e satisfatório aos seus espectadores.