Crítica – Coringa
Finalmente chegou a hora de conferirmos se toda a espera valeu a pena, deste longa que traz como protagonista um dos maiores antagonistas da Cultura Pop e definitivamente o maior do mundo dos quadrinhos, o Coringa.
Antes de falar qualquer outra coisa, é preciso dizer: Sim o filme é tudo aquilo que você esperava, e tudo aquilo que falaram dele também. Tem referências ao cinema do Scorcese, do Tarantino e até do Kubrick, tem uma atuação fantástica de Joaquim Phoenix, mas mais do que tudo isso, tem uma assinatura rica e singular que Todd Phillips conseguiu atribuir a todo este caldeirão de referências.
Se nos quadrinhos temos a icônica Batman: Ano Um, este filme dedicado ao Coringa pode ser tomado como um paralelo. Ainda que longe de mostrar aquele Palhaço do Crime em seu usual terno roxo, cercado por capangas e cheio de plano mirabolantes para derrotar o Homem Morcego, aqui toda sua loucura ganha um rosto, um passado e uma forma.
Na trama, acompanhamos Arthur Flack (Joaquim Phoenix), um homem atormentado e de muitas maneiras quebrado, que de dia trabalha como palhaço de rua, enquanto a noite, sonha em se tornar um comediante de stand-up. Tudo isso, ao mesmo tempo em que tenta se readequar a uma cidade podre, violenta e corrupta.
A escolha do diretor em levar esta história para o final dos anos 70/ inicio dos anos 80, vai além da referência estética ao Scorcese. A representação da cidade evidentemente suja e violenta, a beira de uma revolução das castas mais pobres contra as mais ricas, acaba por definir Gotham quase como um personagem secundário, com uma história própria, que apesar de intimamente ligada a do protagonista, ocorre mais como um pano de fundo para o desenrolar da história principal.
Sobre Coringa, se juntarmos cinema e televisão, já tivemos as mais distintas roupagens para o personagem, o anarquista Heath Leadger, o mafioso Jack Nicholson ou até o infantil Cesar Romero, mas nenhum expressou tanta dor em sua loucura quanto a de Phoenix. A atuação é sim digna de ser ao menos lembrada no Oscar, do físico magricela, esguio e performático, até a postura, hora tímida e desajustada, hora imponente e altiva. Tudo age para tornar cada aparição do personagem incômoda ao espectador. A risada, fator determinante quando se fala do Coringa, aqui ganha ares mais trágicos. Arthur, sofre de um problema mental que o faz rir descontroladamente em situações de stress, mas a gargalhada não é espontânea, longe disso, é algo forçado, doloroso e incontrolável que vira quase uma ânsia presa na gargante do ator. Não atoa, sua atuação já vem ganhando prêmios pelo mundo.
De maneira geral, o longa usa como fio condutor da trama a vida de Arthur, seu estado psicológico serve para apresentar a história sob sua ótica, por isso, a primeira vista, seus atos violentos podem parece romantizados, mas não se deixe enganar. Talvez aqui esteja o maior acerto do roteiro. Este Coringa não é um agente do caos, apesar de seus atos levarem a isso, ele não é politico, apesar de seu discurso levar a isso. Gotham o mastigou e cuspiu fora, mas o Coringa esta longe de ser uma simples vitima de uma sociedade cruel, ele é de fato insano e mau por definição.
Para quem, assim como eu, ficou na dúvida sobre as referências às Hqs no longa, fique tranquilo. Ainda que apenas flerte com partes da icônica A Piada Mortal de Alan Moore, Coringa faz uma menção inusitada ao Cavaleiros das Trevas de Frank Miller, quando coloca vários televisores, em diferentes canais com jornalistas falando sobre as ações do Palhaço do Crime.
Coringa conseguiu equilibrar o que Hollywood queria, sem abrir totalmente mão do gênero de super – herói. Vale a pena para os amantes do cinema e também para aqueles que apreciam um bom quadrinho.